Quando encontro algum amigo de adolescência que não vejo há alguns anos é comum ouvir o seguinte comentário:
“Aquele tempo era tão bom... Gostaria tanto que voltasse”.
Como tudo que é senso comum, merece uma reflexão. Resolvi pensar no assunto.
Como assim naquele tempo era tão bom?
Reportei-me a minha adolescência para recordar sobriamente.
Eu era um adolescente sem um tostão no bolso. Cinema com aquela menina bonitinha nem pensar, até por que nem sabia chegar numa garota e tudo acabava naquela melancólica paixão platônica.
Achava que meu grupo de amigos era o melhor do mundo e me fechava para outros. Reuníamos nas tardes vazias para ouvir alguém tocar no violão sempre as mesmas músicas. Minha religião era a única certa, o que me privava de novos conhecimentos.
Minha mãe se metia sempre na minha vida e cortava os melhores “baratos”. Não tinha carro para me locomover, o que fazia do meu mundo uma província. Dividia um quarto com meu irmão, que não me deixava acender a luz. Tinha que estudar grande parte do tempo livre ou a culpa me dominava.
Não foi uma época tão boa assim, mas foi o que eu tive. É claro, muitas coisas boas aconteciam também, como hoje.
Acho que não quero esta época da adolescência de volta.
Penso que o tempo ofusca as lembranças ruins e somente as boas permanecem quando pensamos rápido. O que era mau vira piada com o passar dos anos, e o que era bom se torna inesquecível e colorido. É algum dispositivo colocado em nós para seguirmos mais felizes.
O que é ruim agora será bom amanhã. Mas pode crer, não é bem assim. O tempo bom não existe apenas no passado, existe hoje também. Então basta que enxerguemos a vida agora com mais boa vontade, assim como fazemos com o passado.
É o mesmo raciocínio da frase o jardim do vizinho é sempre mais florido que o meu. O que não podemos alcançar é sempre idealizado e o que temos de concreto sempre renegado.
ResponderExcluirA propósito, você é o de camisa branca, terceiro da esquerda pra direita na foto?
A propósito sou eu mesmo. Imagina, com a camisa pra dentro da calça e de cinto, não podia ser uma época boa mesmo...rs
ExcluirLindo texto, Valentim. Há nisto tudo que descreveu muito do que também experimentei durante meus anos de juventude. Desta época não nos resta mais nada, nem mesmo as - nem tão longas - madeixas. Parabéns pela sensibilidade e pela qualidade do trabalho com as palavras.
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