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Agoniado, procura o copo d’agua que está no criado mudo ao lado da cama, tenta beber o líquido, está desesperado, não consegue. A esposa se mexe na cama, mas não acorda. O homem não consegue falar, está sufocando. Ele se deita e toca a esposa que revela um sorriso suave. As mãos do marido não respondem ao seu comando. Ele se encolhe no seu canto, visivelmente agonizante. São terríveis minutos de sofrimento. Seu olhar vai se distanciando, e após um longo suspiro o silêncio retorna ao quarto do casal.
O homem acordou morto, é o que dizem as pessoas que conversam no enterro.
- Morreu com saúde. Quisera eu partir assim, em paz enquanto durmo. Diz uma senhora.
- Verdade, isso é que é desencarnar feliz, dormindo ao lado da esposa. Responde outra mulher.
No final das contas o que importa é que ele deixou este mundo. Há que se levar em consideração que não foi por acidente, nem queimado, afogado ou na bala, foi deitado, em sono profundo.
A ilustração é de André Valentim exclusivamente para "Acordou morto".
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