Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



sexta-feira, 21 de março de 2014

O gato Zé Peroba

Quando era garoto e morava em Jacarepaguá, lá em casa nasceu um gatinho malhado de branco e preto. Era filho único de uma gata negra que se hospedou no quintal. Foi batizado de José Peroba, nome dado pela minha mãe, não sei por que. Passamos a chamá-lo Zé Peroba.

Observamos, tão logo veio ao mundo, que Peroba possuía o estranho hábito de chupar o dedão da pata dianteira. A mania bizarra chamava atenção. Sempre onde dormia deixava uma poça de baba.

Era um gato genioso, chato e mal humorado, nunca teve um irmão para dividir as coisas, por isso se tornou também egoísta. Gostava de se divertir escondendo-se atrás de algum móvel para nos surpreender e arranhar nossos pés, era infernal. Não adiantava colocá-lo para fora e fechar os basculantes, ele empurrava e entrava, invadia a casa por qualquer fresta que descuidadamente deixávamos, às vezes trazia um amigo. Até hoje tenho pesadelos tenebrosos com isso.

O Zé tinha uma dieta estranha, gostava de abacate e não dispensava um pedaço de beterraba, o que tornava seu cocô avermelhado.

 Naquela época não existia esta estória de sair castrando os gatos, aí o Zé saia pra rua toda noite pra pegar gatinhas, fazia um barulho amedrontador. Costumava nestes passeios surrar os gatos dos vizinhos. Dia seguinte vinham as reclamações.

O danado do gato gostava de dormir na minha cama quando eu estava ausente, nunca conseguia flagrá-lo, mas o colchão afundado, quente e com pelos estava lá para irritar.

Amávamos o Zé Peroba, era parte da família. Certo dia simplesmente desapareceu. Até hoje suspeito de um cara na vizinhança chamado Osni, o sujeito ficava sempre acocorado na calçada em frente a sua casa e tinha uma tara de literalmente comer os gatos da redondeza. Minha mãe até perguntou para ele, mas o cara-de-pau negou sem olhar nos olhos.

A mania de chupar o dedão perdurou durante toda a existência do gato. Saudades do Zé Peroba.

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