Quem assistiu ou acessou o noticiário desta segunda-feira deve ter visto o caso da mulher que denunciou, em tempo real, uma execução cometida por policiais militares dentro de um cemitério na cidade de Franco da Rocha. O caso, ocorrido em março, só tornou-se público com a divulgação do áudio da ligação.
http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/mulher-presencia-execucao-feita-por-pms-e-liga-para-policia-em-sao-paulo/1477247/#/Edições/20110405/page/2
Rapidamente a mulher tornou-se exemplo de cidadã corajosa. Os comentaristas em rádios, jornais e TVs, além de enaltecerem a figura da senhora, que estava no local visitando o túmulo do pai, aproveitaram para criticar a maioria dos cidadãos que não tomam o mesmo tipo de atitude e fogem de responsabilidades até mais simples, como servir de testemunha em uma ocorrência policial ou em um acidente de trânsito.
Mas um pequeno detalhe da matéria passou despercebido pelos nossos homens da mídia: a denunciante teve que entrar em um programa de proteção a testemunhas. Quem conhece este tipo de proteção, sabe que o delator precisa passar por uma mudança completa de vida, deixando sua residência, trocando de cidade, e, dependendo da situação, tendo inclusive que trocar de identidade.
Tento imaginar a situação atual da denunciante: estaria ela, agora que está privada de sua rotina, arrependida pela denúncia? Pela firmeza que demonstrou no telefone, inclusive desafiando um dos envolvidos no crime, acho que não. O que não acho correto são os jornalistas, protegidos em seus estúdios, criticarem o resto da população que não toma atitudes semelhantes. O elogio à atitude corajosa é extremamente válido, mas não se pode generalizar a crítica. Existem em nosso país milhares de testemunhas de atrocidades cometidas pelos diversos tipos de criminosos, fardados ou não.
Seria absurdo dizer que aqueles que não denunciam compactuam com o delito cometido. Na verdade, a maioria teme pela sua segurança e de suas famílias, pois sabem que por aqui o criminoso sempre larga em vantagem, tanto pela demora na ação das autoridades policiais como pelo nosso sistema judicial que, com suas brechas e progressões de regime, devolverá em pouco tempo o delinqüente às ruas.
É por isto que, ao mesmo tempo em que aplaudimos a postura da denunciante, temos que entender quem não tem a mesma coragem, além de torcer para que o tempo mude as nossas instituições e nossa justiça.
Fagner Fagundes
Twitter: @fagnerfagundes
O texto foi finalizado ontem, mas hoje o Bom Dia Brasil trouxe uma matéria sobre Programa de Proteção a Testemunha.
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/04/faltam-recursos-para-programas-que-oferecem-protecao-testemunhas.html