Acomodei-me em um banco próximo a janela, ali poderia dormir, ler um livro, lanchar ou fazer qualquer outra coisa que a posição sentado permitisse naquelas duas horas de viagem que se seguiriam.
Tudo ocorria como planejado, até que de repente o ônibus parou, não continuaria mais a viagem, acabara de quebrar. Estávamos parados agora no meio do Meier, coração do subúrbio carioca, um calor de lascar.
A trocadora anunciou:
- Todo mundo pra fora, o ônibus deu um piripaque!
Os passageiros começaram a levantar sem acreditar no que acontecera.
Olhei acima da cadeira da trocadora onde se encontrava uma plaquinha dizendo que a empresa era obrigada a devolver o dinheiro em caso de pane. A passagem não era nada barata, afinal tinha ar condicionado, um bem vital no verão carioca.
Resolvi fazer valer meu direito e fui pedir o que havia pagado de volta.
- Meu filho, não devolvo não, senão vou pagar do meu bolso, vai descendo e deixa isso pra lá, daqui a meia hora passa outro igual a esse e você entra sem pagar. Respondeu a trocadora.
Não me conformei com a resposta e insisti, citando a leizinha acima daquela cadeira. Um rapaz que estava ao meu lado me deu apoio, o que me encorajou a reivindicar aquele suposto direito.
Dirigi-me ao meu companheiro e sugeri que conclamássemos a todos os passageiros a entrar naquela briga, foi o que eu fiz.
Não lembro se alguém olhou para trás a fim de dar atenção ás minhas palavras incitatórias. Insisti.
- Vamos pedir nosso dinheiro de volta, é um direito nosso!
- Deixa isso pra lá, quem quer brigar por causa de oito reais! Retrucou um passageiro mais atencioso.
Por sorte havia um PM chegando à porta do lotação refrigerado. Corri até ele e apelei para aquele homem da lei. Sim, ele poderia fazer valer aquela regra que enfeitava o gabinete da trocadora.
- Vim aqui pra dar solução e não pra criar problemas, vai para aquele lado e espera o outro ônibus como todo mundo.
As palavras do PM enterraram de vez minhas pretensões de movimentar as massas. Neste momento meu único seguidor anunciou que estava abandonando a causa.
Estava sozinho. Envergonhado, direcionei-me para o lado oposto da calçada onde se encontravam os passageiros, conformados pela oportunidade de poder pegar o próximo frescão, ainda que um pouco cheio.
Quando percebi que não podia mais ser visto pelo pessoal que estava comigo no ônibus quebrado, fiz sinal para o primeiro cata corno que passou, lotado, como tinha de ser, cheio de calor humano. Paguei só dois reais.