Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os véus, as mulheres e os homens

Vi alguns filmes iranianos e notei que as mulheres estão sempre com a cabeça enrolada em panos e usando batas de manga comprida. Já os homens se vestem normalmente. No Irã há bem mais liberdade para a mulher do que nos países árabes em geral, afinal os iranianos são Persas.

Disseram-me que nestes lugares as mulheres gostam de ser tratadas assim e, se você tentar libertá-las, lutarão para manter suas restrições. Na verdade elas aceitam sua condição de reprimidas por algum motivo que lhes impuseram. Em algum momento o medo tomou conta dos homens e foi preciso conter as mulheres, esmagando-as. A força física masculina ajudou. O sexo feminino foi condenado, não sei o porquê.


No Brasil as mulheres estão livres dos panos, mas ainda assim são obrigadas a usar véus simbólicos. Por aqui também se tem medo de mulher. Não precisa explicar muito, todos sabem do machismo que ainda sobrevive entre nós. Mulher que é liberada sexualmente ainda é considerada vagabunda, usar saia curta justifica estupro, brasileira em filme pornográfico nacional na verdade está apanhando, coisas do tipo.

As instituições religiosas, deturpadas pelo homem, também reforçam o massacre a mulher, na verdade são os motivos religiosos os que mais justificam a destruição da liberdade feminina, não há como achar fundamento para tal absurdo no amor, que deveria ser a base das crenças, mas é assim.

Qual o perigo que a mulher liberta pode oferecer? Por que tanto medo do nosso semelhante feminino? Na contra mão da machalhada eu olho para elas e só consigo ver beleza.

Seremos mais felizes quando nos desapegarmos destas baboseiras impensadas que se entranharam na nossa sociedade. Tornamos nossas vidas piores por motivos que nem sabemos direito de onde surgiu. Acredito que seria bem melhor se mulher e homem fossem livres, sem medos, sem reservas e sem véus.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Acordou morto


Acordou morto
O casal se prepara para dormir. Um beijo de boa noite na esposa. O marido vira-se para o lado, se acomoda e cai nos braços de Morfeu. O sono é agitado e lá pelas três da manhã o homem acorda de súbito, senta-se na cama com os olhos arregalados, está visivelmente passando mal, a mulher não acorda.

Agoniado, procura o copo d’agua que está no criado mudo ao lado da cama, tenta beber o líquido, está desesperado, não consegue. A esposa se mexe na cama, mas não acorda. O homem não consegue falar, está sufocando. Ele se deita e toca a esposa que revela um sorriso suave. As mãos do marido não respondem ao seu comando. Ele se encolhe no seu canto, visivelmente agonizante. São terríveis minutos de sofrimento. Seu olhar vai se distanciando, e após um longo suspiro o silêncio retorna ao quarto do casal.

O homem acordou morto, é o que dizem as pessoas que conversam no enterro.

- Morreu com saúde. Quisera eu partir assim, em paz enquanto durmo. Diz uma senhora.

- Verdade, isso é que é desencarnar feliz, dormindo ao lado da esposa. Responde outra mulher.

No final das contas o que importa é que ele deixou este mundo. Há que se levar em consideração que não foi por acidente, nem queimado, afogado ou na bala, foi deitado, em sono profundo.

A ilustração é de André Valentim exclusivamente para "Acordou morto".