Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



sábado, 16 de abril de 2011

Os estranhos seres que povoam do metrô

"O Bunda de garra"
"O Mochiludo"

Quem ainda não andou de metrô não sabe o que está perdendo. É um ambiente único, com características próprias e habitantes bizarros que só podem ser encontrados lá.

Para registrar este habitat particular e seus componentes resolvi listar alguns destes personagens.

A senhora orc – Muito comum. Sua presença é sentida nas horas do rush. São baixinhas, troncudas e risonhas, passam no meio das pessoas arrastando o que estiver pela frente sem o menor pudor. Quando andam em bando o cuidado deve ser redobrado.

O mochiludo – Na prática é um cara que tem uma corcunda enorme que poderia ser facilmente removida se ele quisesse. Mas não, o cara insiste em manter a mochila nas costas, ocupa o lugar de duas pessoas. No metrô cheio se torna bem perceptível e você tem vontade de bater.

O mão frouxa – É um chatinho que não tem força para segurar na barra vertical do metrô. Você está segurando na haste e aí a mão do cara escorrega e “top”... Encosta na sua, você afasta sua mão mais pra baixo e “top”... Logo a mão do sujeito está lá colada na sua novamente.

O corpo fixo – Nossa! Este é um dos mais perniciosos, geralmente fica próximo a porta, fixo como um poste. O corpo dele não se move e você sente que precisa derrubá-lo mas não é tão fácil assim, então você acaba procurando outro caminho.

O bunda de garra – É o ser que segura o ferro vertical com os glúteos, aí ninguém mais pode segurar ali, pois quando a bunda agarra, as costas vêm junto ocupando toda a extensão da barra. A solução é cutucar com o dedo pra ver se o indivíduo se manca.

O vacilão – Indeciso em sua essência, você vai se irritar com ele. O cara fica parado esperando o metrô chegar bem onde vai abrir a porta, você está logo atrás. Quando o vagão abre a porta o cara para e simplesmente não sabe pra onde vai. Nestes segundos de catatonia todos os bancos já foram ocupados e você vai ficar em pé e com muita mágoa, é claro.

O inconveniente – Este é o chato curinga. Está em toda parte e não possui inteligência social. Ele sempre chega depois de você. Para colado na gente mesmo tendo espaço de sobra, se fixa nas passagens e amassa seu rosto com o braço ainda que exista um monte de lugar para segurar. A sorte é que tem espaço, aí você procura outro canto.

A tropa de choque – Na verdade é uma parede orgânica formada por corpos fixos, muito difícil de ser vazada. Formam um bloqueio na porta do vagão e você não consegue sair ou entrar no metrô. A tropa de choque aparece em algumas estações pontuais e na hora do rush. Senhoras orcs também podem aparecer compondo este paredão impenetrável.

O sonolento ou cara-de-pau - Este é aquele sujeito que senta no banco reservado para pessoas com necessidades especiais, grávidas, crianças de colo e velhinhos. Logo que sentam começam a cochilar como se ninguém percebesse que estão fingindo. Tem uns que até babam para parecer real, é aquele tipo de cara que quando faz barba sai serragem.

Se você já identificou algum tipo que não está listado aqui mande sua sugestão nos comentários. Colabore com este levantamento cultural e antropológico.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

A coragem de denunciar

Quem assistiu ou acessou o noticiário desta segunda-feira deve ter visto o caso da mulher que denunciou, em tempo real, uma execução cometida por policiais militares dentro de um cemitério na cidade de Franco da Rocha. O caso, ocorrido em março, só tornou-se público com a divulgação do áudio da ligação.

http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/mulher-presencia-execucao-feita-por-pms-e-liga-para-policia-em-sao-paulo/1477247/#/Edições/20110405/page/2

Rapidamente a mulher tornou-se exemplo de cidadã corajosa. Os comentaristas em rádios, jornais e TVs, além de enaltecerem a figura da senhora, que estava no local visitando o túmulo do pai, aproveitaram para criticar a maioria dos cidadãos que não tomam o mesmo tipo de atitude e fogem de responsabilidades até mais simples, como servir de testemunha em uma ocorrência policial ou em um acidente de trânsito.

Mas um pequeno detalhe da matéria passou despercebido pelos nossos homens da mídia: a denunciante teve que entrar em um programa de proteção a testemunhas. Quem conhece este tipo de proteção, sabe que o delator precisa passar por uma mudança completa de vida, deixando sua residência, trocando de cidade, e, dependendo da situação, tendo inclusive que trocar de identidade.

Tento imaginar a situação atual da denunciante: estaria ela, agora que está privada de sua rotina, arrependida pela denúncia? Pela firmeza que demonstrou no telefone, inclusive desafiando um dos envolvidos no crime, acho que não. O que não acho correto são os jornalistas, protegidos em seus estúdios, criticarem o resto da população que não toma atitudes semelhantes. O elogio à atitude corajosa é extremamente válido, mas não se pode generalizar a crítica. Existem em nosso país milhares de testemunhas de atrocidades cometidas pelos diversos tipos de criminosos, fardados ou não.

Seria absurdo dizer que aqueles que não denunciam compactuam com o delito cometido. Na verdade, a maioria teme pela sua segurança e de suas famílias, pois sabem que por aqui o criminoso sempre larga em vantagem, tanto pela demora na ação das autoridades policiais como pelo nosso sistema judicial que, com suas brechas e progressões de regime, devolverá em pouco tempo o delinqüente às ruas.
  
É por isto que, ao mesmo tempo em que aplaudimos a postura da denunciante, temos que entender quem não tem a mesma coragem, além de torcer para que o tempo mude as nossas instituições e nossa justiça.

Fagner Fagundes
Twitter: @fagnerfagundes

sábado, 2 de abril de 2011

Seu chefe, seu carrasco


Algumas coisas a gente ouve desde muito cedo. Uma delas é o que dizem sobre aqueles que adquirem o poder. Existe o mito de que quem ganha uma função de chefia muda da água para o vinho, e, a partir deste momento, realmente saberemos quem é aquela pessoa. Um grande equívoco, mais um chavão que as pessoas ouvem e repetem sem refletir.

Somos o que somos. Não nos transformamos sem mais nem menos só por que passamos a ter alguém subordinado a nós. É muito comum pessoas que têm sede de poder puxarem saco de quem está acima deles e serem crueis com seus subordinados. Estes costumam chegar bem alto na carreira. Não quer dizer que mudaram: se você observar vai ver que apenas seguiram seu caminho natural. Pode ser que a nova situação apenas tenha lhes realçado algum traço de caráter.

Esse fato se tornou uma verdade tal que, em alguns casos, independe como aquele que contraiu uma chefia age: ele será um babaca que mudou quando assumiu o poder. As pessoas já estão doutrinadas, é como se fosse uma lei da natureza. Esta forma de agir, senso comum, me faz pensar que na verdade apenas o que muda é o conceito de quem compra esta ideia sobre o que assume a liderança.

Já tive chefes bons e ruins. O bom a gente valoriza e apoia, o ruim a gente espera o tempo passar que ele se vai. Fico feliz quando algum amigo se torna meu chefe. Até hoje não vi nenhum mudar por que virou o comandante. É um prazer trabalhar ao lado de um amigo, não estou nem aí pra esse papo de que se é chefe temos que hostilizar.

Se a regra é abominar o chefe, imagino que a contrapartida seja o chefe maltratar sempre o subordinado, o que seria insano. Não somos obrigados a seguir este padrão.

Precisamos nos libertar dos pensamentos de massa, são fáceis de seguir, mas tem preço alto. Nosso povo se acostumou ao paternalismo, daquele que comanda se espera um comportamento de pai, do subordinado um filho que precisa de castigo. Esta relação nefasta está ultrapassada e precisa ser erradicada de nossa sociedade.