Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Acordou morto


Acordou morto
O casal se prepara para dormir. Um beijo de boa noite na esposa. O marido vira-se para o lado, se acomoda e cai nos braços de Morfeu. O sono é agitado e lá pelas três da manhã o homem acorda de súbito, senta-se na cama com os olhos arregalados, está visivelmente passando mal, a mulher não acorda.

Agoniado, procura o copo d’agua que está no criado mudo ao lado da cama, tenta beber o líquido, está desesperado, não consegue. A esposa se mexe na cama, mas não acorda. O homem não consegue falar, está sufocando. Ele se deita e toca a esposa que revela um sorriso suave. As mãos do marido não respondem ao seu comando. Ele se encolhe no seu canto, visivelmente agonizante. São terríveis minutos de sofrimento. Seu olhar vai se distanciando, e após um longo suspiro o silêncio retorna ao quarto do casal.

O homem acordou morto, é o que dizem as pessoas que conversam no enterro.

- Morreu com saúde. Quisera eu partir assim, em paz enquanto durmo. Diz uma senhora.

- Verdade, isso é que é desencarnar feliz, dormindo ao lado da esposa. Responde outra mulher.

No final das contas o que importa é que ele deixou este mundo. Há que se levar em consideração que não foi por acidente, nem queimado, afogado ou na bala, foi deitado, em sono profundo.

A ilustração é de André Valentim exclusivamente para "Acordou morto".

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