Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



sábado, 21 de abril de 2012

Os bons tempos não voltam mais. Será?

Quando encontro algum amigo de adolescência que não vejo há alguns anos é comum ouvir o seguinte comentário:

“Aquele tempo era tão bom... Gostaria tanto que voltasse”.

Como tudo que é senso comum, merece uma reflexão. Resolvi pensar no assunto.

Como assim naquele tempo era tão bom?

Reportei-me a minha adolescência para recordar sobriamente.

Eu era um adolescente sem um tostão no bolso. Cinema com aquela menina bonitinha nem pensar, até por que nem sabia chegar numa garota e tudo acabava naquela melancólica paixão platônica.

Achava que meu grupo de amigos era o melhor do mundo e me fechava para outros. Reuníamos nas tardes vazias para ouvir alguém tocar no violão sempre as mesmas músicas. Minha religião era a única certa, o que me privava de novos conhecimentos.

Minha mãe se metia sempre na minha vida e cortava os melhores “baratos”. Não tinha carro para me locomover, o que fazia do meu mundo uma província. Dividia um quarto com meu irmão, que não me deixava acender a luz. Tinha que estudar grande parte do tempo livre ou a culpa me dominava.

Não foi uma época tão boa assim, mas foi o que eu tive. É claro, muitas coisas boas aconteciam também, como hoje.

Acho que não quero esta época da adolescência de volta.

Penso que o tempo ofusca as lembranças ruins e somente as boas permanecem quando pensamos rápido. O que era mau vira piada com o passar dos anos, e o que era bom se torna inesquecível e colorido. É algum dispositivo colocado em nós para seguirmos mais felizes.

O que é ruim agora será bom amanhã. Mas pode crer, não é bem assim. O tempo bom não existe apenas no passado, existe hoje também. Então basta que enxerguemos a vida agora com mais boa vontade, assim como fazemos com o passado.

3 comentários:

  1. É o mesmo raciocínio da frase o jardim do vizinho é sempre mais florido que o meu. O que não podemos alcançar é sempre idealizado e o que temos de concreto sempre renegado.
    A propósito, você é o de camisa branca, terceiro da esquerda pra direita na foto?

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    1. A propósito sou eu mesmo. Imagina, com a camisa pra dentro da calça e de cinto, não podia ser uma época boa mesmo...rs

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  2. Lindo texto, Valentim. Há nisto tudo que descreveu muito do que também experimentei durante meus anos de juventude. Desta época não nos resta mais nada, nem mesmo as - nem tão longas - madeixas. Parabéns pela sensibilidade e pela qualidade do trabalho com as palavras.

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