Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Marcha pela família. Tô fora!

De vez em quando são organizadas por aí umas tais marchas pela família, algo que para mim não soa muito bem. O que seria esta família?  Pai, mãe e filhos como base? Pior quando falam que é pela família cristã. Família cristã, biblicamente falando, seriam todos aqueles que fazem a vontade de Deus, o que já exclui muita gente, afinal poderia a intolerância ser vontade de Deus? Só mesmo numa cabeça degenerada. Vejam o que diz este texto bíblico em Mateus 12: 46-50:

“E, falando Jesus ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.”

           Pelo que entendo a família cristã é composta por todos que aceitam a pregação de Jesus, e não por pai, mãe, vovó, vovô e filhos perfeitinhos. Se pensarmos bem este modelo familiar estabelecido discrimina quem não pertence ao clã. Quem não tem “família” seria um renegado, mas o cristianismo é justamente para renegados.

Tem muita gente vivendo “em família” por aí só na aparência. Muitos falam mal da mentira, mas ai deles se esta não existisse, devíamos agradecer todos os dias pela opção de mentir.

Quem já não ouviu por aí o termo, “esta é uma garota de família”, o que significa isso? Acho que garota de família é aquela que faz sexo mais consegue esconder e a que não consegue deixa de ser de família. E tem aqueles que vivem com suas famílias imaculadas, mas tem seus amantes para fazer a parte divertida, afinal ninguém é de ferro. No final é tudo uma mentirada do caraças.

Aceite você ou não, o texto bíblico diz o tempo todo que Jesus não veio para os “certinhos”, veio para os excluídos, prostitutas, homossexuais, separados, solteiros e tudo mais que as pessoas de família não toleram.

Pessoas de família não conseguem conceber a idéia de que Jesus possa ter tido uma namorada ou que transformou a água em vinho de verdade, e não em suco de uva. Que diferença faz isso para quem realmente entende a mensagem espiritual de Jesus? Hipocrisia teimosa. O tempo passa e caminhamos a passos de formiga em nossa evolução espiritual, se é que ela acontece mesmo.


“A mentira é a liga da sociedade humana.”

sexta-feira, 21 de março de 2014

O gato Zé Peroba

Quando era garoto e morava em Jacarepaguá, lá em casa nasceu um gatinho malhado de branco e preto. Era filho único de uma gata negra que se hospedou no quintal. Foi batizado de José Peroba, nome dado pela minha mãe, não sei por que. Passamos a chamá-lo Zé Peroba.

Observamos, tão logo veio ao mundo, que Peroba possuía o estranho hábito de chupar o dedão da pata dianteira. A mania bizarra chamava atenção. Sempre onde dormia deixava uma poça de baba.

Era um gato genioso, chato e mal humorado, nunca teve um irmão para dividir as coisas, por isso se tornou também egoísta. Gostava de se divertir escondendo-se atrás de algum móvel para nos surpreender e arranhar nossos pés, era infernal. Não adiantava colocá-lo para fora e fechar os basculantes, ele empurrava e entrava, invadia a casa por qualquer fresta que descuidadamente deixávamos, às vezes trazia um amigo. Até hoje tenho pesadelos tenebrosos com isso.

O Zé tinha uma dieta estranha, gostava de abacate e não dispensava um pedaço de beterraba, o que tornava seu cocô avermelhado.

 Naquela época não existia esta estória de sair castrando os gatos, aí o Zé saia pra rua toda noite pra pegar gatinhas, fazia um barulho amedrontador. Costumava nestes passeios surrar os gatos dos vizinhos. Dia seguinte vinham as reclamações.

O danado do gato gostava de dormir na minha cama quando eu estava ausente, nunca conseguia flagrá-lo, mas o colchão afundado, quente e com pelos estava lá para irritar.

Amávamos o Zé Peroba, era parte da família. Certo dia simplesmente desapareceu. Até hoje suspeito de um cara na vizinhança chamado Osni, o sujeito ficava sempre acocorado na calçada em frente a sua casa e tinha uma tara de literalmente comer os gatos da redondeza. Minha mãe até perguntou para ele, mas o cara-de-pau negou sem olhar nos olhos.

A mania de chupar o dedão perdurou durante toda a existência do gato. Saudades do Zé Peroba.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Panela de pressão

Toda vez que vou cozinhar feijão na panela de pressão fico apreensivo. Artefatos deste tipo explodem pra valer. Penso que a origem desta fobia vem da pré-adolescência.

Certa vez numa manhã bucólica brincava no quintal da minha casa tranquilamente, a mãe havia saído com meu irmão mais novo, em casa estávamos somente eu e minha irmã, que vigiava o feijão no fogo.

De repente ouvi uma explosão e senti o chão tremer, o estrondo veio da cozinha. O susto foi grande, saí para ver o que havia acontecido. É claro que toda a vizinhança ouviu também o estardalhaço.

Quase que instantaneamente meus vizinhos começaram a minar para dentro de nossos domínios, vinham de todos os lados. Formou-se uma pequena multidão na porta da cozinha, onde eu também estava querendo saber o que havia ocorrido. Minha irmã saiu de lá de dentro, de um mar de estilhaços de feijão preto, e falou com cara de paisagem para os curiosos:

- Barulho? Não ouvi. Ué... Não sei do que vocês estão falando.

Foi difícil acreditar no que ela disse, pois estava coberta de feijão dos pés a cabeça, o exaustor havia sido arrancado, a pia de aço inox estava vincada, havia um furo no teto e uma panela retorcida no chão. As paredes estavam pintadas de preto, uma cena dantesca. Mas diante da negação e da cara de “não imagino do que se trata” da minha irmã os vizinhos resolveram não perguntar mais e se retiraram.

Eu dei um toque que achava que eles não tinham engolido a estória de que nada havia ocorrido, mas minha irmã estava brava com a invasão da casa.

Até hoje não sei se ela se queimou com todo aquele feijão na cara e nos cabelos. Engraçado, nunca encontramos o pino preto da tampa da panela. A mim restou o medo de ferver coisas na panela de pressão.