Quando eu era garoto, existia um quadro do Jô Soares na TV em que o protagonista resumia conversas longas e cheias de rodeios em uma só palavra que dizia tudo, sempre introduzida por "vou no popular". A idéia deste blog é ser claro nas opiniões. Vamos falar também de filmes, músicas, livros ou qualquer trabalho que valha a pena comentar.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Você também é uma ilha?

Tenho um amigo que se gaba em dizer que é uma ilha
Já conheceu alguma pessoa que diz não se envolver com gente dos lugares que freqüenta?
Vou explicar melhor, pois eu já tive a oportunidade de encontrar pessoas assim. Aqui em Brasília tem um montão delas.
São indivíduos engraçados, se você diz pra eles que tem amigos na academia de ginástica, por exemplo, eles reagem dizendo que não gostam de fazer amizade com gente de academia. São várias as justificativas para não entrar em contato, “são pessoas vazias”, “só pensam no corpo”, e outras abobrinhas mais.
De repente você convida o mesmo sujeito para uma reunião de lazer com os membros do condomínio. Ele diz que prefere não se envolver com vizinhos, pois podem acabar por se meter na sua vida e invadir sua privacidade.
Aí você começa a ficar curioso e quer saber se ele prefere se relacionar com pessoas da igreja que freqüenta, colegas de trabalho, ou a família. Para surpresa nossa ele justifica, para cada uma instituição, por que não gosta de manter relacionamento. “O povo da igreja é muito fofoqueiro. Não gosto de confundir trabalho com vida pessoal. Família só trás problemas, melhor ficar longe”.
Imaginamos que este sujeito deve ser uma daquelas pessoas que não sai do bate papo da internet. Descobrimos então que não, ele detesta conversar pelo computador, pois acha que lá as pessoas são degeneradas. Não sobra opção, com quem o infeliz se relaciona?
Não sei a fundo o motivo desse estranho comportamento, talvez seja influência de revistas semanais, individualismo, tendência atual de comportamento, ou simplesmente medo.
Mas a verdade é que as pessoas que estão nas academias, condomínio, trabalho, igreja, boate, barzinho, família ou internet, são gente como todo mundo. As pessoas não são exclusivas destes locais ou instituições, muito menos tem personalidade atrelada ao local que freqüentam. Besteiras desse tipo acabam virando chavão, comentário sem a menor reflexão.
Um dos maiores prazeres da nossa existência é se relacionar com o próximo. Não podemos esquecer que estamos todos no mesmo barco, somos farinha do mesmo saco, portanto aproveitemos o que a vida nos dá de melhor.

Um comentário:

  1. Nenhuma ilha é uma ilha, esse é um título publicado pelo consagrado autor italiano Carlo Girzburg. Embora o texto de Ginzuburg seja relacionado aos métodos de construção da História (a ciência) isso muito se relaciona de como as pessoas levam a sua própria história (de vida).
    Não problematizar nossas “verdades” com novas fontes, métodos de investigações e de conhecimento é uma porta aberta para aqueles presos em suas próprias verdades possam concluir que a sua história é a história.
    Por isso, eu gosto mesmo é de historiografia (a história da história). Os protagonistas de uma fantasia com apenas um personagem ou pessoas ilhas, talvez, com muita ajuda sejam fontes que não precisamos navegar muito pra chegar até elas, mas muito distantes da realidade que as cercam.
    Qualquer coisa destruir uma ilha que não tem domínio das águas que rodeiam o seu território é fácil. Ah, mas nem precisa...
    Outra reflexão interessante sobre esse arquipélago da solidão é feita por Zygmunt Bauman no livro Tempos Líquidos. O capítulo, fora do alcance juntos, só pelo título já apresenta a problemática ocasionada pela inversão da lógica da constituição das cidades.
    Mas heim... qual é a serventia dessa tal História?

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